gareth covid 19 research 1400 x 400

Engenharias de acesso à comida: infraestruturas excludentes e alimentos frescos em favelas no Brasil

British Academy grant

2019 – 2022

O projeto reúne um time interdisciplinar de pesquisadores com o objetivo de explorar e compreender como e quais alimentos são disponibilizados nestas comunidades, bem como as principais rupturas e barreiras ao longo do processo.
• Also available in English
 

O projeto 'Engenharias de acesso à comida: infraestruturas excludentes e alimentos frescos em favelas no Brasil' é financiado pelo programa “Infraestruturas Urbanas de Bem-Estar” da British Academy

A equipe de pesquisadores é composta por:  Dr Gareth Jones (Director, LSE LACC), Dra Aiko Ikemura Amaral (LSE LACC, Reino Unido) and Dra Mara Nogueira (Lecturer, Birkbeck University) e Dr Andre DuarteDr Vinicius Rodrigues,  Dr Lars Meyer Sanches e Michele Martins (Insper, Brasil). 

As favelas brasileiras são espaços dinâmicos. Supostamente, no entanto, elas também são “desertos alimentares” e “pântanos alimentares”, marcadas pela ausência de opções alimentares saudáveis a preços acessíveis e pela abundância de opções de baixo valor nutritivo. Partindo desta contradição aparente, o presente projeto propõe uma análise crítica das cadeias de suprimento e das redes sociais que conformam a distribuição, acesso e consumo de alimentos frescos em favelas brasileiras localizadas nas cidades de Belo Horizonte e São Paulo.

O projeto reúne um time interdisciplinar de pesquisadores das áreas de geografia, sociologia, engenharia e operações com o objetivo de explorar e compreender como e quais alimentos são disponibilizados nestas comunidades, bem como as principais rupturas e barreiras ao longo do processo. Como objetivo geral, o projeto busca desenvolver uma nova abordagem que entende a comida como parte constitutiva e essencial das infraestruturas urbanas. 

Alimentação não é um assunto usualmente pensado em termos de infraestrutura e planejamento urbano. No entanto, desigualdades estruturais e espaciais que caracterizam as cidades impactam diretamente sobre a distribuição e acesso a alimentos frescos de qualidade e adequados a especificidades culturais da população. As cadeias de suprimento  convencionais são frequentemente incapazes de fechar o último elo da distribuição de alimentos frescos em favelas. Neste contexto, o  fornecimento destes produtos depende, em grande parte, de comércios de pequeno porte.

Moradores e empreendedores locais constantemente têm que reinventar suas estratégias frente a sucessivas mudanças de governo e flutuações no mercado para completar o abastecimento. Atores locais, portanto, materializam parte da infraestrutura de provisão de alimentos nestas comunidades através de feiras de rua e pequenos negócios familiares, entre outras estratégias. 

Esta pesquisa parte do pressuposto de que a gama de alimentos  oferecida, assim como seu preço e qualidade, é mais que uma função da eficiência das cadeias de suprimento . Tendo isto em mente, a pesquisa explora como hierarquias sociais baseadas em classe, raça e gênero conformam infraestruturas já estabelecidas e mediam o acesso e demanda por certos produtos.

Para tanto, a pesquisa dialoga de maneira crítica com o arcabouço teórico que trata de disparidades no acesso a alimentos frescos em áreas urbanas no presente contexto neoliberal. Questiona, ainda, a aplicabilidade de conceitos como “desertos alimentares” e “pântanos alimentares” ao cotidiano brasileiro, contestando também a normatividade implícita em termos como “(in)segurança alimentar”, “alimentação saudável” e “alimentos frescos”. 

Para desenvolver tal análise, o projeto articula métodos etnográficos e de modelagem quantitativa para mapear as infraestruturas públicas e privadas, formais e informais, assim como as estratégias típicas vernaculares da engenharia de acesso a alimentos nos contextos das favelas. Buscando o engajamento de moradores, donos de pequenos negócios, organizações locais, ONG e empreendedores sociais, a pesquisa discutirá os significados culturais atrelados a certos tipos de alimento e as decisões que informam preferências de consumo.

Utilizando entrevistas e observação participante, a pesquisa explora as disparidades e ausências nas cadeias de suprimentos de alimentos. Dessa forma, busca-se identificar formas criativas de colaboração e iniciativas populares através das quais as pessoas se tornam elos importantes das infraestruturas que provém alimentos às favelas. 

Os produtos desta pesquisa foram pensados de maneira a encorajar o diálogo entre atores públicos e privados, de forma a discutir e propor soluções práticas para reduzir a exclusão e as desigualdades no acesso a infraestruturas de provimento de alimentos em favelas.

O material será publicado em português e/ou inglês, e inclui postagens em blogs, artigos acadêmicos e análises de políticas públicas. Estas publicações visam propor formas de consolidar a logística das cadeias de distribuição assim como as infraestruturas sociais que contribuem para o bem-estar de moradores urbanos de baixa-renda. Links para o material já disponível podem ser encontrados abaixo.

A banca consultiva inclui Dra Laurie Denyer Willis (University of Cambridge, Reino Unido), Dra Jeanne Firth (Tulane University, EUA), Dr Austin Zeidermann (LSE, Reino Unido) e Professor João Tonucci (UFMG, Brasil).

Publicações

Nosso time de assistentes de pesquisa:

Rafael Gomes da Silva é graduado em Comunicação Social, com habilitação em Publicidade e Propaganda, e também atua como Analista de Conteúdo na Editora BEI.

Laryssa Kruger é administradora de políticas públicas, mestre em urbanismo e especialista em habitação social. Trabalha com pesquisa quantitativa e qualitativa com foco em territórios urbanos periféricos e vulneráveis. 

Lis Blanco tem interesse em políticas públicas ligadas à alimentação, fome e o Estado. É doutoranda na Unicamp, onde examina a transformação da "fome" em "insegurança alimentar" e os efeitos desta no fazer o Estado. Mestra em Antropologia Social pela mesma instituição, ela tem trabalhado com pesquisa interdisciplinar e etnográfica nos temas de alimentação e desigualdades nos últimos dez anos. Também é membra da APSA (Ateliê de Produção Simbólica e Antropologia) and RBPSSAN (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional). 

Juliana Moraes Araújo é mestre e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa. Sua pesquisa concentra-se em sistemas alimentares urbanos sustentáveis e processos colaborativos. 

Renata Santos de Oliveira é moradora e mobilizadora do território, localizado no Vitória, região da Izidora. Formada na luta pela moradia do povo.

 

Créditos da Imagem: Vendedor de ovos na favela de Paraisópolis, cidade de São Paulo. Henk W J Ovink, Special Envoy for International Water Affairs, Kingdom of The Netherlands Sherpa to the UN/WB High Level Panel on Water.